A Opera Mundi, Tania Bernuy, coordenadora do partido no Brasil, afirma que gestão de Pedro Castillo sofreu ‘constante perseguição’ da direita peruana
São Paulo (Brasil)
8 de dez de 2022 às 15:30
O impeachment contra Pedro Castillo nesta quarta-feira (07/12) no Peru foi resultado do distanciamento que o agora ex-presidente tomou do partido Peru Livre, que o elegeu em julho de 2021. Essa é a avaliação de Tania Bernuy, coordenadora nacional da legenda no Brasil.
Para ela, o começo da queda de Castillo foi a decisão de abandonar o partido e, consequentemente, o plano de governo com o qual foi eleito, após vencer a direitista Keiko Fujimori, filha do ex-ditador Alberto Fujimori.
Em entrevista a Opera Mundi nesta quinta-feira (08/12), Bernuy defende que o distanciamento da legenda foi motivado e «fortemente promovido» por Aníbal Torres, que chegou a assumir o Conselho de Ministros do governo, e de «outros políticos que traíram o partido».
«O Peru Livre, no cumprimento fiel aos seus ideários partidários, sempre iria apoiar o governo do presidente Castillo contra o impeachment», disse ela, que também é diretora executiva da Associação Latino-Americana de Arte e Cultura (ALAC).
O então presidente peruano, que ficou 16 meses no poder, anunciou na quarta o fechamento do Congresso nacional e um Estado de exceção. Horas depois, Castillo foi destituído do cargo, com 101 votos de 130 possíveis – superando os 87 necessários – e preso pelas autoridades locais.
Em seu lugar, foi empossada sua vice, Dina Boluarte, a primeira mulher a comandar o país.
A liderança do Peru Livre no Brasil avalia à reportagem que esse cenário e a queda de Castillo se deram pela direita peruana e a «constante perseguição política» que a gestão sofreu desde que assumiu o país.
Ainda de acordo com Bernuy, o lawfare presente na América Latina também pode ser denunciado no Peru, um país que «vive sequestrado há três décadas pela ultradireita do regime fuji-montesinista», ligada a imprensa «difamatória que prolifera o golpe a nossa democracia».
«E os poderes das grandes elites que sustentam o status quo no país e que não deixaram o presidente do povo governar», denunciou.
Castillo errou ao tentar fechar o Congresso?
A tentativa do sindicalista de fechar o Congresso horas antes da votação que poderia afastá-lo do cargo não foi apoiada pelo partido Peru Livre, muito menos a votação de seu impeachment.
Para a líder peruana no Brasil, quando houve a segunda negativa dos parlamentares na aprovação do gabinete ministerial de Castillo, ele «tinha o amparo legal». No entanto, segundo Bernuy, ele errou «no momento e nas condições frágeis que tinha».
«Era necessário convocar os movimentos populares que o elegeram e articular o apoio para de fato garantir a conquista revolucionária do Estado de direito que o povo defendeu nas urnas junto ao programa de governo do Bicentenário que libertaria o nosso país da opressão em que vive o povo peruano por décadas», disse.
Sem a base popular e aliados, Castillo «se atirou numa piscina sem água», sendo aconselhado por «parlamentares que traíram o partido Peru Livre e as causas do povo».
A Opera Mundi, para Bernuy, agora, é necessário «defender a liberdade» de Castillo e a instauração de uma Assembleia Constituinte que possa derrubar a Constituição de 93, ainda do regime de Fujimori.
«O impeachment foi perpetrado em status ilegal do Congresso extinto pelo presidente, no uso pleno de suas faculdades. A defesa deve ser orientada no sentido de exigir a urgente instauração da Assembleia Constituinte», afirmou.
Opera Mundi separou os mandatos dos últimos chefes de Estado peruanos / arte: Paola Orlovas
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